5.3.14

dentro de llewyn davis


Llewyn Davis é um cantor que após perder seu companheiro de palco, inicia uma carreira solo em busca de reconhecimento no cenário folk dos anos 60. "Inside Llewyn Davis" (que na versão nacional tem adição do belo subtítulo "balada de um homem comum") é o mais recente filme dirigido e roteirizado pelos irmãos Coen. 

Não estamos diante de um drama comum e fácil de ser digerido, a vida do cantor em busca de sucesso não é tão simples quanto parece a primeira vista: ela carrega cicatrizes de um passado recente e consequências de escolhas imprudentes. 

Mas, antes de tudo, Llewyn Davis precisa sobreviver. Sem residência fixa ou um lugar para ter uma boa noite de sono, de bico em bico ele caminha para o seu destino. A cada porta que se fecha, uma ponte parece iluminar. 

Se desprender do passado é algo difícil, mas necessário. Seu ex-parceiro musical parece não querer lhe abandonar. É como um gato que foge e, quando menos esperamos, está de volta para nos acompanhar. Saber domá-lo pode ser essencial. 

Entre músicas contagiantes e uma bela fotografia, os Coen criam um ciclo praticamente perfeito; vivemos tantas coisas dentro de Llewyn Davis que ficamos assustados ao notar que não se passou nem uma semana, o próprio cantor reconhece nossa posição, "parecia um longo tempo, mas foram apenas alguns dias".  E, apesar da história terminar da mesma maneira onde começou, Llewyn não é mais o mesmo, aquele que indesejavelmente o acompanhava agora está sob o seu controle. O controle de um fracassado cantor solo, nesta grande balada de um homem comum.




24.1.14

sobre lobos e trapaças

Dois filmes baseados em histórias reais deste Oscar tratam de um tema semelhante que muito me agrada: o ambicioso mundo dos golpistas. Falo aqui de The Wolf of Wall Street de Martin Scorsese e American Hustle de David O. Russel. 

Mas adianto desde já: Trapaça, nada mais é, que um Lobo de Wall Street para aqueles que preferem Coca Zero. 


O Lobo de Wall Street é Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, brilhante!), desde sua ascensão como um bem sucedido corretor da bolsa de valores até a sua inevitável queda envolvendo crimes, corrupção e muito, muito dinheiro. Trapaça conta a história do golpista Irving Rosenfeld (Cristian Bale), que junto com sua parceira Sydney Prosser (Amy Adams) são forçados a trabalhar para um agente do FBI, Richie DiMaso (Bradley Cooper), para livrar a própria pele. 


O Lobo é uma sátira sobre excessos, o crime organizado no mundo do colarinho branco, exaltando a vida de um jovem que conquistou tanto dinheiro a ponto de não saber mais com o que gastar: é puro sexo, drogas e rock'n'roll (que trilha sonora, meus amigos!), no melhor estilo Scorsese de fazer cinema. 

Trapaça é um filme de interpretações, personagens interpretando personagens como uma forma de ganhar a vida, uma lavanderia de golpes em que nem tudo é sobre dinheiro. E como de costume nos últimos trabalhos de David O. Russel, são os atores que carregam o filme (palmas para o quarteto principal, com destaque para Jennifer Lawrence, que está cada vez melhor e mais linda), e que nos fazem continuar assistindo à este show um tanto quanto previsível.  


É interessante a forma em que a ambição é tratada em ambos os filmes: em O Lobo, ela é o que move Belfort a querer sempre mais, um resquício de seus excessos, é o que o fez chegar onde chegou e é o que o motiva a continuar. No filme de O. Russel, apesar da ambição ser de fato a essência de todo bom trapaceiro, ela está representada em DiMaso, o agente do FBI que não se contenta com pouco, descontrolado, querendo dar um passo maior que a perna, a ponto de esquecer com quem está lidando. 

 

Apesar dos pesares, Trapaça não é um filme ruim  é o melhor de David O. Russel dos últimos anos (o que não quer dizer muito...), porém, é esquecível. Ao contrário do filme de Scorsese, que provavelmente se juntará a lista de grandes filmes do diretor. 

Não acredito que nenhum dos dois tenham grandes chances no Oscar; O Lobo por ser o filme que é (forte demais para os conservadores da academia), Trapaça não ganha pela concorrência — em um ano mais fraco, levaria fácil o Oscar de melhor filme. Felizmente, este não é um ano fraco, e muita coisa boa ainda está por vir  ou pelo menos é o que eu espero.